JOHN BRADY

Cinzento, nebuloso, frio, típico clima invernal em pleno verão?! Será possível isso, onde é que foram parar as estações do ano? Parece mentira, mas tem muitos anos que não recordo mais de estações do ano definidas.  Poucas horas separam o calor escaldante do frio polar. Os nossos carros estão mais para pequenos closets do que qualquer outra coisa. Longe de ser por vaidade esse acúmulo de agasalhos a tira colo, mas sim,  pura necessidade.

Mais um daqueles continhos que falam do tempo, que falta de originalidade!

São exatamente sete horas da manhã, o despertador tocou há quinze minutos, tempo suficiente para ter me levantado, lavado o rosto e escovado os dentes. Estou na cozinha tomando um café da manhã  frugal, devido a minha pressa: pãozinho francês tostado, manteiga, geléia caseira de damasco, queijo branco, suco de laranja e, por fim, café com leite. Não abro mão deste ritual, uma bela mesa posta, toalha de linho, impecavelmente passada, louças de porcelana com o brasão da família. Aliás, única coisa que realmente sobrara na partilha de uma família quatrocentona que já vivera dias melhores. ( Deve ser um filhinho de papai metido a besta!) Ainda que eu só comece no escritório às nove horas, prefiro acordar cedo e degustar com vagar as pequenas delícias que preparo no café da manhã. Isso quando não é final de semana, pois daí me dou ao luxo de acrescentar muitas frutas, iogurte, cereais e frios de primeira qualidade, comprados no mercado sempre na sexta-feira ao final do expediente.

(Puxa, tô morrendo de fome e ainda tenho que ficar lendo essas descrições com a minha geladeira vazia) 

 Melhor contar em outro momento com mais detalhes como é o meu café da manhã dos fins de semana, do contrário corro sério risco de me atrasar e  de alguém ficar com mais fome ainda... E hoje, mais do que nunca, tenho que estar pontualmente no escritório para nossa reunião mensal de prestação de contas e planejamento do mês subseqüente.

A essa altura do campeonato já deve estar se perguntando qual atividade afinal eu exerço. Calma que já lhe conto. Agora tenho ainda que terminar de vestir o traje social e ajustar a gravata. 

(Que cara pretensioso, não tô nem aí pra ele.)

-Bom dia Sr. Brady!

-Bom dia, Samuel. Melhor aumentar os agasalhos, pois, apesar de estarmos no verão, estamos com cinco graus negativos!

-Claro, Sr. Já vou colocar mais um casacão, apenas o tirei para regar o jardim.

Trânsito infernal, a cada dia que passa tenho a impressão de que esta cidade, que já fora modelo de planejamento viário, está  com suas vias irremediavelmente entupidas. Ainda assim, consegui chegar à reunião com apenas sete minutos de atraso.

Abro os trabalhos como de costume e, por força de ser o diretor da empresa, todos já estavam me aguardando. Pois bem, acho que ainda não me apresentei por completo. Sou John Brady, arquiteto e urbanista, diretor de uma pequena, mas combativa, empresa de arquitetura, que desenvolve projetos urbanísticos para as cidades: parques, shoppings, alamedas e vários outros equipamentos urbanísticos presentes em uma cidade. Tenho 42 anos, dono de belo apartamento, sucesso profissional e uma ex-mulher que não cansa de infernizar a minha vida por conta da filha que juntos tivemos e que usa como ferramenta para me atormentar. Vivo em uma cidade de porte mediano chamada Cliven, que faz fronteira com Blemilton, conhecida mundialmente pelo acidente nuclear de tempos atrás.

 ( Só se for conhecida pra ele, porque eu nunca ouvi falar dessa cidade!)

Finalmente termina a reunião, vou apressadamente me encontrar com Betty, minha namorada há mais de dois anos, para almoçarmos. Ela, apesar de enfrentar o mesmo trânsito caótico, por incrivel que pareça, sempre é pontual.

-Oi, querido, como foi a reunião?

-Cansativa, mas foi bem produtiva, fechamos os balanços e encaminhamos um projeto que vai nos ocupar bastante nos próximos três meses.

Com um brilho nos olhos, Betty me conta que tem uma notícia impactante para me dizer. Disse que este era o dia mais feliz da sua vida, que havia sido promovida a diretora regional da multinacional que trabalhava e que há muito esperava por tal ascensão.

Notícia merecedora de um belo brinde de espumante, ainda que não costume beber durante o expediente. Mas a ocasião era mais do que merecedora. Despedimo-nos e combinamos, como de costume, falar no início da noite, quando ambos estaríamos já em casa. (Que chatice esse lance de casal vinte que fica bobo com as conquistas do outro, só na ficção isso!)

AINDA vibrando com a conquista de Betty, cheguei ao escritório com um sorriso indisfarçável no rosto. A novidade foi muito motivadora, pois eu sei o quanto a Betty batalhou por esta oportunidade. Se existe alguém que se dedica muito além do necessário para alcançar as metas da empresa, este alguem certamente é ela. E o pior de tudo, que faz com muito prazer e outro tanto de obstinação todas as suas tarefas.

(-Parou, parou, parou.O que eu tenho a ver com John Brady, sua firma de arquitetura, ou Betty e a sua merecida promoção?  Porque diabos eu tô perdendo o meu tempo lendo estas abobrinhas que não dizem a que vêem?)

Ok, você venceu, vou continuar a história com outro código para você parar de me aborrecer.

,Qfçdljfsato ertufsdafeoluri sdfdsçfjile aslriepr sdlfeje.....

E desta forma termina esta surpreendente história de John Brady.

FIM